Exposição: Arquitetas e urbanistas [des]conhecidas, por uma ampliação da história da arquitetura e do urbanismo na América do Sul, 1929-1960

 

A historiografia da arquitetura e do urbanismo modernos na América Latina vem nos últimos quinze anos, aproximadamente, focando e mostrando a importância da contribuição das arquitetas e urbanistas latino-americanas no continente. Essa bibliografia nos revela, de um lado, as não poucas dificuldades dessas profissionais em firmar-se no campo profissional e, do outro, as táticas e possibilidades encontradas por elas decorrentes dessa situação. Nessa linha, por exemplo, podemos citar o artigo “Mujer y arquitectura en el Perú. Pioneras” (2011) de Carolina Velásquez Castillo; os livros “Carmen Portinho” (1999) de Maria Luíza Nobre, “Por toda minha vida” (1999) de Carmen Portinho e “Arquitetas e arquiteturas na América Latina do século XX” (2014) de Ana Gabriela Godinho Lima; a atuação, a partir de 2014, do coletivo “Arquitetas Invisíveis” e sua revista homônima; além de uma série de teses e dissertações sobre o tema como “Profissão: Arquiteta. Formação profissional, mercado de trabalho e projeto arquitetônico na perspectiva das relações de gênero” (2010 - USP) de Flávia Carvalho de Sá e “Itala Fulvia Villa: uma mulher na arquitetura moderna argentina (1913-1991)” (2016 - UNILA) de Soraya Jebai Quinta.

Porém, de uma forma mais ampla, isto não significa que a mulher profissional na nossa área não haja tido papel fundamental para a consolidação e posterior reflexão do movimento moderno. Por exemplo, podemos mencionar os livros “La Carta de Atenas: el urbanismo del CIAM” (1950) publicado pela primeira vez no idioma espanhol na América Latina e que teve como a responsável pela tradução a arquiteta Delfina Gálvez de Williams e, “El corazón de la ciudad. Por una vida más humana de la comunidad” resultado das discussões do VIII CIAM organizado por Jaqueline Tyrwhitt, José Luis Sert e Ernesto Nathan Rogers. No Brasil foi um fato inédito que no livro “Modern Architecture in Brazil” (1956) de Henrique Mindlin aparecesse um projeto arquitetônico de uma arquiteta: o da alagoana Lygia Fernandes (a residência de João Paulo de Miranda Netto); este caso só acontecerá novamente 35 anos depois com a publicação do livro “Arquitetura moderna: a atitude alagoana” (1991) da arquiteta Maria Angélica da Silva, onde encontramos referências a Lygia e à arquiteta pernambucana Zélia Maia Nobre.

Aliás, é importante destacar a contribuição das mulheres no campo teórico e crítico. No Brasil, além do livro de Maria Silva, podemos citar os livros “Arquitetura Moderna Brasileira” (1982) de Sylvia Ficher e Marlene Milan Acayaba, “O alvo do olhar estrangeiro. O Brasil na historiografia da arquitetura moderna” (2002) de Nelci Tinem, “Pós-Brasília. Rumos da arquitetura brasileira” (2003) de Maria Alice Junqueira Bastos e, “Brasil. Arquiteturas após 1950” (2011) de Maria Alice Junqueira Bastos e Ruth Verde Zein. Na Argentina é indiscutível o aporte da arquiteta Marina Waisman e a influência de seus livros “La estructura histórica del entorno” (1972), “El interior de la historia. Historiografía arquitectónica para uso de latinoamericanos” (1990) recentemente traduzido para o português (2013) e, “La arquitectura descentrada” (1995); também, destaca-se a extensa produção da arquiteta Anahi Ballent, dentre a qual, podemos citar “El dialogo con los antípodas. Los CIAM y América Latina” (1995). Na Colômbia destacam-se os livros “Historia de la arquitectura en Colombia” (1990), “Historia de un itinerario” (2002) e “Ciudad y arquitectura. Seis generaciones que construyeron la América Latina moderna” (2012) da arquiteta Silvia Arango.

Ainda, chama-se a atenção para os trabalhos pioneiros sobre o tema nos Estados Unidos centrados na discussão sobre a situação, dificuldades e desafios profissionais das arquitetas desse país. Exemplo disso são os artigos “Woman in architecture” (1969 – Architectural Forum) de Beatrice Dinerman, “Woman in architecture” (1972 – Architectural Forum) de autoria da Women Architects, Landscape Architects and Planners – WALAP e, “Women in architecture: Leveling the Playing Field” (1995 – Progressive Architecture) de Abby Bussel e; os livros “Woman in American Architecture: A Historic and Contemporary Perspective” (1977) organizado por Susana Torre, “The first American Woman” (2008) de Sarah Allaback e, “Architecture. A place for women” (1989) organizado por Ellen Perry Berkeley.

Outros trabalhos mais recentes vêm discutindo e resgatando de forma mais ampla a contribuição de arquitetas e urbanistas modernas e promovendo um olhar crítico sobre arquitetura e gênero. No primeiro dos casos podemos citar os livros “Heroínas del espacio. Mujeres arquitectos en el movimiento moderno” (2007) de Carmen Espegel, “Las mujeres de la Bauhaus: de lo bidimensional al espacio total” (2015) de Josenias Hervás y Heras e, “Women Architects and Modernism in India” (2017) de Madhavi Desai. Já no segundo dos casos, o campo mais produtivo e extenso atualmente, podemos citar “Women of steel and stone” (2014) de Anna M. Lewis, “Arquitectas. Redefiniendo la profesión” (2015) organizado por Nuria Álvarez Lombardero, “Where are the Women Architects?” (2016) de Despina Stratigakos e, “Onde estão as mulheres arquitetas?” (2016) organizado por Catherine Otondo e Marina Grinover.

É nesse contexto que este projeto de pesquisa se iniciou em 2012 tendo como objetivo entender a contribuição das arquitetas e urbanistas sul-americanas modernas para a consolidação e experiências no campo profissional na região. Para tal, optamos e tomamos como base uma fonte que vinha sendo pouco utilizada nas referências citadas: as revistas especializadas. No total, até o momento foram analisadas dez revistas sul-americanas: as argentinas Revista de Arquitectura (1915-1956) e Nuestra Arquitectura (1929-1986); as brasileiras Revista da Directoria de Engenharia (1932-1969) e Acrópole (1938-1971); a peruana El Arquitecto Peruano (1937-1977); a colombiana Proa (1946-1969); a uruguaia Arquitectura (1914-1996) e; as venezuelanas Integral (1955-1959), Punto (1961-2001) e Taller (1963-1969). A escolha dessas revistas levou em consideração alguns critérios como: circulação no âmbito nacional e internacional, período de publicação dentro do recorte temporal, periodicidade e, perfil editorial (acadêmico, comercial, institucional etc.). Já em relação ao recorte temporal, foram levados em consideração dois fatos representativos que marcaram simbolicamente a consolidação e a crise do movimento moderno no continente: a visita de Le Corbusier à América do Sul (1929) e a inauguração de Brasília (1960).

 

Data: 
10/05/2018 a 10/06/2018