'Nordeste selvagem e acolhedor': o olhar carioca, paulista e mineiro sobre a arquitetura moderna nordestina através das revistas especializadas, 1950-1970

Se fizermos uma revisão da bibliografia referencial sobre a história da arquitetura e do urbanismo modernos brasileiros é possível identificar, grosso modo, uma predominância por contar essa história através das experiências realizadas no Rio de Janeiro, em São Paulo e, posteriormente, em Brasília. São poucos e pontuais os casos em que aquilo que estava acontecendo, fora desses centros, tomou importância, sendo incorporado pela historiografia a modo de “casos isolados”. Ao contrário desse panorama, o conteúdo das revistas brasileiras especializadas da época revela-nos um conjunto de experiências muito mais amplo e diversificado que abrange também as experiências desenvolvidas nas capitais dos estados do Nordeste.
No período em estudo que vai entre as décadas de 1950 e 1970, foram, basicamente, três as revistas que circularam no meio profissional nacional de forma mais ou menos contínua: a revista paulista Acrópole, fundada em maio de 1938 por Roberto A. Corrêa de Brito, a qual se manteve em circulação até 1971; a revista mineira Arquitetura e Engenharia dirigida por Geraldo Godoy Castro, publicada entre 1947 e 1965 e; a revista carioca Módulo, a qual teve como diretor responsável o arquiteto Oscar Niemeyer, mantendo-se em circulação entre 1955 e 1989 após um período de interrupção de dez anos entre 1965 e 1975.
A proposta desta comunicação parte de duas questões-chave: o que foi publicado sobre a experiência em arquitetura e urbanismo modernos do Nordeste? Quais foram os arquitetos e projetos que tiveram maior destaque nessas revistas? Um levantamento preliminar do conjunto dos artigos publicados mostra-nos que a imagem do Nordeste “selvagem e acolhedor”, nas palavras de Mauricio Vinhas, ia muito além da ideia de cenários paradisíacos, quase intocados, os quais não haviam sofrido as transformações de outras cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo. Assim, pretendemos trazer à luz aspectos que nos ajudem a repensar e relativizar a historiografia já estabelecida.