O que é que a Bahia tem?

ARTIGO EM CO-AUTORIA COM JULIANA CARDOSO NERY

Os anos compreendidos entre 1955-1975 no Brasil são momentos de radicais mudanças que vão da eufórica, porém controversa, construção de uma nova capital nacional ao mergulho numa ditadura militar. Porém, a tutoria autoritária da produção cultural, sob a qual se deu uma generosa produção arquitetônica desse momento era algo bastante familiar aos brasileiros desde a “Era Vargas”. No entanto, bem diverso do orgulho nacional tão cultuado e celebrado dos primeiros tempos modernos, o vínculo irremediável com a ditadura, talvez ajude a explicar, mesmo que parcialmente, a escassez de pesquisas sobre as obras dessa fase.

Os anos 60 sem dúvida nos remetem a desdobramentos centrais na implementação da política desenvolvimentista com forte impacto no espaço urbano e na arquitetura, que muitas vezes se expressou através de uma linguagem brutalista, de traços similares no país, porém de modo bem mais heterogênio em cada região brasileira do que aquele que a historiografia brasileira tem registrado.

Percebe-se que há manifestações brutalistas que acontecem simultaneamente no Brasil que divergem geograficamente, conceitualmente e arquitetonicamente das já reconhecidas e evidenciadas manifestações do “brutalismo paulista”. Assim como alguns autores vêm contribuindo com o alargamento do entendimento do brutalismo e da primazia do centro irradiador inglês, revelando a pluralidade geográfica, a polissemia dos conceitos e a polivalência das soluções arquitetônicas no mundo, isso também acontece de maneira similar em relação à produção paulista e as demais realizações no vasto território brasileiro. Mas como afirma Ruth Verde Zein (2007) há “aparências” comuns que permitem o reconhecimento de todas essas obras como brutalistas.

Esse trabalho então visa abrir uma linha de investigação que se propõe a ampliar esse entendimento a partir do estudo de um caso específico de manifestações baianas. O texto trata dos edifícios da Universidade Federal da Bahia que apresentam esse mínimo denominador comum brutalista, a saber: a Faculdade de Arquitetura de autoria de Diógenes Rebouças (1964/1965); o Instituto de Matemática, o Instituto de Biologia, o Instituto de Física, o Laboratório de Fracas Radioatividades e o Instituto de Geociências, projetos da Equipe do Serviço de Engenharias do Campus Universitário da UFBA (1966/1968); a Faculdade de Administração, a Faculdade de Educação e a Faculdade de Medicina, da Equipe da Prefeitura do Campus da UFBA (1971-1976).

Esses edifícios foram construídos nas décadas de 60 e 70, num momento em que se intensifica a federalização do ensino superior no Brasil, iniciada na década de 1950 sob a tutela do Estado, que ganha maior impulso nas duas décadas seguintes. Dentro desse quadro das políticas públicas centrais para o ensino superior uma gama de obras foi produzida que revela tangências e divergências em suas materializações locais.

A intenção desse trabalho é realizar uma análise desses edifícios. Busca-se compreender as soluções conceituais e arquitetônicas dessa produção a partir das soluções volumétricas, das formas de articulação espacial, da relação entre o espaço externo e interno, e particularmente da maneira pela qual exploram plasticamente a estrutura e os materiais em seus estados brutos. A partir dessa análise pretende-se mapear as proximidades e os distanciamentos dessa produção com relação àquelas realizadas em São Paulo.

Para além da ampliação do universo da produção “brutalista” no Brasil, esse trabalho também se justifica por uma preocupação com a preservação dessa arquitetura. Especificamente na UFBA vem ocorrendo um processo acelerado de descaracterização promovido por uma parte da própria Instituição, devido ao desconhecimento da importância dessas obras, que vem modificando irremediavelmente suas principais características arquitetônicas, impossibilitando seu reconhecimento e promovendo sua destruição enquanto objeto e representante da linguagem brutalista.

Ano: 
2013