Este trabalho pretende refletir sobre as intervenções em pré-existências realizadas pelos arquitetos Enric Miralles e Benedetta Tagliabue (Escritório EMBT). Considera-se que suas obras manifestam plenamente as suas compreensões sobre a memória, o tempo e a história. E oferecem importantes indagações para as intervenções contemporâneas no patrimônio construído. Devem ser apresentadas duas obras realizadas pelo EMBT. A primeira delas é a intervenção realizada no apartamento da rua Mercaders, em Barcelona (1993-1994). A segunda é a recuperação do Mercado Santa Caterina (1987-2005), situado na mesma cidade. A partir das duas propostas examinadas, é possível observar suas orientações fundamentais: a superposição de memórias, tempos e histórias. Como isso acontece? Na intervenção do apartamento da Rua Mercaders, os arquitetos atuam sobre a descoberta dos vestígios das diversas presenças existentes. Presenças de usos acumulados historicamente, que deixam suas marcas no local: “Sempre as mesmas paredes, usadas e reusadas desde a época gótica até hoje”. (EL CROQUIS, p.46) E reutilizadas por Miralles e Tagliabue, que as expõem e sobrepõem a elas a marca dos usos da contemporaneidade. Memórias de utilização que se sobrepõem nos diversos tempos, todas com a mesma intensidade. No caso do Mercado de Santa Caterina, a equipe trabalha sobre os rastros que conformam a memória dos usos do local. Os arquitetos contam com a superposição de vestígios góticos e românicos do antigo Monastério e aos do antigo Mercado. Todos esses estratos são considerados simultaneamente, como se estivessem todos condensados na atualidade. Mas há que se considerar que essas superposições de memórias também se manifestam entre os próprios projetos dos arquitetos. Miralles afirma que existe uma continuidade em seus projetos, “como se houvesse um único trabalho que vai passando de um projeto para outro”, (Miralles, apud MASSAD e GUERRERO, s/p) como se todos fossem uma única obra. Nas intervenções em pré-existências do EMBT a sobreposição das memórias e a condensação dos tempos indicam que a história está em permanente transformação. O presente tem a potencialidade de agir sobre o passado e sobre o futuro: nem o primeiro está concluído, nem o segundo está determinado. O presente aglutina as potencialidades de ambos. A história torna-se densa, acumulando as possibilidades do passado, do futuro, e, sobretudo do presente.