Urbanismo na América do Sul: a contribuição das profissionais mulheres através das revistas especializadas, 1940-1980

No século XX, a América do Sul destacou-se internacionalmente no âmbito da arquitetura e do urbanismo; esse período, marcado por transformações arquitetônicas, resultou em uma produção específica e particular que levaram em consideração, em muitos casos, aspectos locais e regionais interpretados pelos próprios profissionais desse novo cenário moderno (WAISMAN, 2013). Uma das caraterísticas que se destaca na produção desses novos projetos, é a realização de obras públicas em nível municipal, estadual e federal. As principais revistas especializadas que circularam em alguns países da América do Sul, entre o período de 1940 a 1980, contribuem para a compreensão dessa produção vinculada ao setor público, sobretudo no que diz respeito à participação das mulheres (HUAPAYA; VASCONCELOS; TAPIA; SANTOS; RUBIO, 2018). Diante desse cenário, esta comunicação tem por objetivo analisar um conjunto de projetos desenvolvidos por arquitetas e engenheiras, não apenas trazendo à luz tal produção, mas também analisando-a e articulando-a de forma crítica a questões relacionadas a gênero, entendendo a inserção delas no campo profissional. Para tal, valemo-nos da análise das seguintes revistas especializadas sul-americanas publicadas no recorte temporal analisado: Habitat e Revista Municipal de Engenharia (Brasil), Revista de Arquitectura (Argentina) e El Arquitecto Peruano (Peru). O conteúdo das revistas acima citadas permite-nos identificar uma série de projetos governamentais realizados por mulheres nos países já citados. A importância de analisar especificamente tais projetos, gira em torno de duas considerações primordiais: em primeiro lugar, a associação realizada entre a mulher e o espaço público, uma relação histórica, que em muitos momentos deixa clara uma possível incompatibilidade. As mulheres, até o início do movimento feminista, eram mantidas sob "razões naturais" ao espaço privado, sem que a maioria delas questionasse. Na arquitetura essa vinculação é, como abordado por Lima (2014), um caminho utilizado pelas mulheres para exercer a profissão, seguindo assim uma produção inicial voltada para projetos residenciais. Já a segunda consideração se dá pela relevância que projetos públicos influenciaram, não só no desenvolvimento econômico, político e cultural dos países sul-americanos, mas também, para a carreira dos profissionais envolvidos com tais projetos. Enfim, levando esses aspectos apresentados resultou-se na compreensão de como se deu a inserção dessas mulheres no campo arquitetônico, bem como as relações de gênero e a autonomia promovida a essas mulheres através dos projetos públicos e os mecanismos de invisibilidade das suas produções.